Sussurro de Deus.
Conta-se que um amigo levou um índio
para passear no centro de uma grande cidade. Seus olhos não conseguiam crer na
altura dos edifícios e ele mal conseguia acompanhar o ritmo frenético das
pessoas indo e vindo.
Espantava-se com o barulho
ensurdecedor das sirenes, dos automóveis e das pessoas falando em voz alta.
De repente, o índio falou: "ouço
um grilo..."
O amigo espantado retrucou:
"impossível ouvir um inseto tão pequeno nesta confusão!"
O índio insistiu que ouvia o
cricrilar de um grilo. Tomou seu amigo pela mão e levou-o até um canteiro de
plantas. Afastando as folhas, apontou para o pequeno inseto.
Como? Perguntou o rapaz, ainda sem
crer.
O índio pediu-lhe algumas moedas e
jogou-as na calçada. Quando elas caíram e se ouviu o tilintar do metal, muita
gente se voltou.
Então o índio falou: "escutei o
grilo porque os meus ouvidos estão acostumados com esse tipo de barulho. As
pessoas aqui ouvem o dinheiro caindo no chão porque foram condicionadas a
reagir a esse tipo de estímulo."
Depois arrematou: "a gente ouve
o que está acostumado ou treinado para ouvir."
É importante fazer algumas reflexões
sobre os ensinos que essa pequena história contém.
Vivemos mergulhados numa infinidade
de ruídos, de barulhos estranhos, num mundo em que grande parte das pessoas só
responde ao estímulo de um tilintar de moedas.
É preciso adestrar nossa audição para
ouvir os mínimos sussurros que passam despercebidos no dia-a-dia agitado.
Poderíamos dizer que, se tivéssemos
ouvidos bem treinados poderíamos ouvir os sussurros de Deus.
Nesse mundo barulhento deixamos de
ouvir sons de profunda beleza, como a melodia suave da brisa da manhã ou a
sonoridade encantadora do bater das asas de um beija-flor.
Em meio a tantos interesses
materialistas, a homenagem que as velhas e frondosas árvores rendem a cada
amanhecer, com a cantoria da sua folhagem, não nos sensibiliza a audição.
O ritmo frenético em que vivemos não
nos permite ouvir a cantoria dos pássaros, o coaxar das rãs, o piar da coruja
solitária que busca refúgio nos grandes centros.
É preciso treinar a audição mas
também desenvolver outras sensibilidades que por vezes parecem amortecidas.
Deixar que o nosso coração se
enterneça diante do apelo silencioso de uma criança sem lar...
Do soluço abafado de alguém que
perambula sem esperança...
De um pedido de socorro que não chega
a vibrar nas cordas vocais...
Do gemido quase mudo que vem do leito
de dor da casa vizinha...
Enfim, é preciso preparar todos os
sentidos para que possamos ter olhos de ver e ouvidos de ouvir. Mas, acima de
tudo, um coração para sentir...
***
Ao abrir os olhos a cada manhã que se
inicia, preste atenção em tudo o que Deus pretende lhe mostrar nesse dia.
Aguce os ouvidos para ouvir tudo o
que Deus quer que você ouça.
Mas para que você possa bem cumprir
os deveres que Deus lhe confia em mais este dia, é preciso alertar também a
razão e deixar que o seu coração se sensibilize.
Afinal, para ouvir e sentir os
sussurros de Deus, é necessário predispor-se com coragem e disposição e muita
grandeza d’alma.
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