O menino aleijado
Era pequenininho. E aleijado. Tinha
seis anos. Sua mãe era uma pobre lavadeira, e moravam no subúrbio de uma grande
cidade.
Ele passava os dias sentadinho ao
lado da janela, olhando o beco onde moravam. Dava para ver um pedacinho do céu
azul acima do telhado da casa do outro lado da ruela. Às vezes uma nuvem branca
navegava no pedacinho de céu azul. Às vezes o céu ficava cinzento.
Mas o beco era mais interessante.
Sempre tinha gente. De manhã cedinho passavam mulheres e homens apressados para
o trabalho. Depois as crianças vinham brincar. Às vezes brincavam de roda, mas
geralmente brigavam muito. Na primavera, vinha o homem do realejo e todos se
alegravam.
O menino via tudo isso, todo dia, com
seu rostinho triste. Só quando via a mãe dele chegando, ele sorria e acenava
com a mão.
– Queria poder ajudar você, mãe –
disse ele uma noite. – Você trabalha tanto e eu não faço nada.
– Ah, você faz, sim! – disse ela
muito animada. – Você me ajuda quando vejo seu rostinho sorrindo na janela.
Você me ajuda quando acena para mim. Meu trabalho fica mais leve porque sei que
você vai acenar para mim quando eu chegar.
– Então vou acenar mais forte – disse
ele.
Na noite seguinte, um operário que
voltava cansado do trabalho viu a mãe do menino acessar para a janela e olhou
para cima também. Viu aquela carinha sorridente na janela lá no alto. E que
sorriso feliz! O homem levou a mão ao boné e, também sorrindo, cumprimentou o
menino. Um pouco encabulado o menino retribuiu o cumprimento.
E na noite seguinte o operário falou
com um companheiro para olhar lá para cima, “para ver aquele menino,
coitadinho, tão quietinho, na janela”. Os dois cumprimentaram com o boné e o
rosto do menino se abriu num sorriso.
Os dias se passaram e cada vez mais
pessoas cumprimentavam o menino. Alguns saiam do seu caminho só para dar um
sorriso para o menino. A vida já não era tão dura quando pensavam como devia
ser para o menino preso à janela. Às vezes alguém jogava uma flor para ele, uma
laranja, uma figura colorida. Quando viam que ele estava olhando, as crianças
paravam de brigar e faziam jogos para divertir o menino. Ficavam felizes ao ver
como ele se alegrava só de olhar as brincadeiras deles.
– Diga ao garoto que não podemos
passar sem ele – disse um operário a mãe do menino. – Vendo a coragem dele,
todos nos sentimos corajosos. Diga isso ao menino.
E o menino sorriu, ainda mais feliz.
“O pior pecado contra o nosso
semelhante não é o de odiá-lo, mas de ser indiferente com ele”. - George
Bernard Shaw
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