O Menino e o Cinema
Aquela gripe inesperada era tudo que
ele não precisava. Justo nesse dia!
Ele estava ardendo em febre e mesmo
assim implorava para sua mãe para ir ao cinema. Afinal de contas, hoje era
quinta feira e era o dia da continuação da sua série favorita. Se ele perdesse
essa parte de hoje, ficaria sem entender a próxima parte.
Dona Rebecca não queria saber de
argumentos, com aquela gripe e com esse "febrão" ele teria que ficar
em casa e pronto. Ai dele se desobedecesse!.
Uma angústia passou pelos olhos do
menino. Escondeu a cabeça sob as cobertas e chorou.
Chorou ao lembrar-se das dificuldades
da vida, da pobreza em que viviam, e do filme que era exibido em séries todas
às quintas-feiras lá no Cine Ok. A série era o "Vale dos
desaparecidos" e era o único filme que ele e o irmão pagavam para ver,
afinal aquele velho golpe de andar de costas quando o povo saia do cinema não
funcionava no Cine Ok.
Chorando e com a febre subindo, o
menino pensava em Deus e na sua justiça. Por quê ele tinha que ficar com febre
justo hoje? Por quê na quinta-feira? Que injustiça era essa? Tantos dias
diferentes para ficar doente, e justo hoje ele amanhece com essa febre que só
veio para atrapalhar tudo...
Adormeceu com a febre que insistia em
queimar. Acordou horas depois com os gritos dos amigos.
Ao abrir os olhos no quarto humilde,
o garoto viu aquele monte de amiguinhos falando ao mesmo tempo. Ele não
entendia nada, era muita gente , muitas palavras e nenhum entendimento. Só
quando seu irmão pediu silêncio foi que ele soube que havia escapado da morte.
O Cine Ok havia pegado fogo naquela tarde de quinta-feira e haviam muitas
vítimas.
Por isso, quando você não entender o
porquê de uma doença, daquele pneu furado pela manhã, o trem que não chega, o
avião que não sai, o carro que você não consegue comprar, os pequenos acidentes
que te atrasam em um compromisso, faça como o menino Senor Abravanel (ou Silvio
Santos, como você quiser), que aos 12 anos descobriu que Deus cuidava dele e
com certeza tinha uma missão muito maior do que aquele filme de quinta-feira á
tarde.
Será que a sua febre não está te
livrando de uma tragédia? Não é hora de agradecer?
Agradecendo por tudo que recebemos,
nós não caímos no risco de sermos injustos, nem com Deus, nem com ninguém.
Reclame menos, agradeça mais e viva
feliz!
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